O texto que compartilho hoje, trata de um assunto delicado. O conflito de como agir no trabalho tendo lúpus. Contar ou não contar. a minha decisão foi contar para as pessoas certas, pois preciso sair ou chegar mais tarde para ir nas consultas, fazer exames, sem contar os dias que me sinto mal. No meu caso não sofri e não sofro preconceito por conta de ter lúpus. Por outro lado vivemos numa sociedade preconceituosa e excludente. Acredito que podemos mudar essa situação estando unidos mesmo que virtualmente. Somos um número grande de pacientes com lúpus, uns com a doença em atividade e outros com remissão. Vamos ao texto.
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Estamos próximos ao
dia 10 de maio, data que se celebra o "Dia Internacional de Atenção à
Pessoa com Lúpus". Juntamente aos meus companheiros de batalha (as
pessoas com lúpus), decidimos todos "sair do silêncio", cada um
recorrendo à sua ferramenta. No meu caso, o que eu tenho em mãos é
escrever. Mais uma vez venho utilizando da escrita para conscientizar a
população sobre o lúpus, portanto, quero desta vez abordar um tema que a
mídia - praticamente - não divulga: "Assedio moral aos doentes no
ambiente laboral".
O Preconceito abre espaço a
discriminação quando o funcionário na
empresa é julgado pelas suas limitações e não por sua competência.
Limitações, lamentavelmente, é o que pessoas com lúpus mais possuem,
querendo ou não.
Inúmeros casos como estes, que me propus a contar aqui, passam
despercebidos pelos olhos da sociedade.
Guardo trancado a sete chaves no baú secreto
do meu coração, alguns nomes de colegas com lúpus que não podem, em hipótese alguma,
revelar no trabalho que têm a doença para não perderem o emprego. Isso
porque muitos se veem obrigados a mentir desde o processo de seleção, devido
que algumas empresas não concedem vagas para pessoas que sofrem doenças
crônicas - e principalmente autoimunes. Assim, o preconceito já começa lá
na primeira seleção da agencia de trabalho. Para a nossa sorte - se é que assim podemos dizer -
o simples exame de hemograma requerido
pela maioria das empresas antes de conceder a vaga ao candidato, não
consegue constatar a doença. Diagnosticar o lúpus não é tarefa
fácil, se necessitam uma série de exames específicos, os quais gerariam
muitos gastos num processo de seleção.... E depois, contar que tem lúpus
ou não contar? Eis a questão!
É muito difícil encontrar
uma pessoa com lúpus que não tenha passado por nenhum tipo de
preconceito no trabalho, por menor que seja, e devido a isso muitas
pessoas hesitam entre contar ou não para os seus chefes que têm a
doença, por medo de perder o emprego ao ser considerado um alguém
inválido ou que vai acabar dando prejuízo à empresa, caso a doença venha
a se agravar. Enquanto, aqueles que já "abriram o jogo", muitas vezes
reclamam de indiretas preconceituosas que recebem cada vez que precisam
faltar no trabalho por complicações de saúde, ou mesmo por consultas de
rotinas e exames - fora os casos em que realmente acabam sendo
despedidos.
Poucos direitos às pessoas
com lúpus foram aprovados por lei, com isso, no ambiente laboral
devemos seguir todas as normas como qualquer outro funcionário. Não há
direito de aposentaria a quem tem lúpus, a não ser que este venha a
sofrer alguma sequela grave que o deixe invalido ou um agravamento da
doença que o leva a um risco de vida, em outras palavras - pode um dia
conseguir a aposentadoria através das piores consequências e não pela
doença em si. Ainda assim, é preciso passar muito tempo (ou muitos anos)
recorrendo ao INSS para provar que não tem condições para trabalhar, o
que nem todos conseguem sair vivos esperando nessa fila.
Certa vez eu recebi um depoimento de uma mãe, que havia
perdido a sua filha com lúpus faziam poucos meses, ela se
desabafou dizendo que a sua filha trabalhou em uma empresa durante
muitos
anos, mas foi despedida logo que descobriu a doença; no momento em que
ela mais precisou do
plano de saúde, que por direito tinha no trabalho, não pode acudir deste
benefício. Mesmo sem
saber muito bem o que estava acontecendo com seu corpo, tentando
entender o
que era o lúpus, suportando as dores, as dúvidas e, de fato, o medo da
morte; ela se viu numa terrível situação de inutilidade e impotência,
tentando encontrar forças suficientes para entrar na justiça e,
pelo menos, conseguir receber os seus direitos para investir em
seus tratamentos, mas não teve tempo para isso. Desgraçadamente ela veio
a falecer nos primeiros meses de
diagnóstico, já que a sua situação estava muito grave. Não sei quantos
casos
como este se repetem "debaixo do nosso nariz", sem nem ao menos ficarmos
sabendo, pois, a mídia não conta – não que sejam
desconsiderados, mas para muitos deve ser como nadar contra a
correnteza. Nós que temos acesso a tantas histórias de preconceitos no
setor laboral, mesmo que não venhamos a sofrer na pele, porém, se calar
perante as injustiças que sofrem muitos dos nossos companheiros de
batalha, é como se estivéssemos sendo cúmplices da mesma.
O problema é que nem todos
os pacientes têm a
sorte – a
idade ou condições – para conseguir um emprego adequado que possa
conciliar com todas as exigências de uma doença crônica e autoimune,
pois alguns tipos de cargos e
funções, podem ser muito prejudiciais à saúde, inclusive,
serem coadjuvantes do desencadeamento ou atividade da doença, como por
exemplo: o estresse, má alimentação, desgastes físicos, exposição aos
raios UV e etc.
Infelizmente, não há como negar, mesmo com
tantas campanhas de conscientização sobre o lúpus que já foram realizadas
nas ultimas décadas, em pleno 2016 ainda sofremos alguns tipos de
preconceitos perante a sociedade. Este que decidi abordar hoje, é apenas um deles.
Isso precisa mudar!
" Vivemos em uma sociedade onde é mais fácil quebrar um átomo do que destruir um preconceito" - Albert Einstein
Fonte: http://marachan.net/
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