É correto dizer "portadores" aos doentes crônicos?

Estive um pouco afastada mas estou de volta compartilhando postagens que nos fazem refletir. Estive numa consulta com minha reumatologista e diante de alguns sintomas e exames a dose do corticoide foi aumentada e será acrescentado mais um remédio específico para o tratamento do lúpus. Agora é aguardar o resultado dessa nova mudança.
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O uso do termo “portador, já foi muito comum pela sociedade durante longas décadas, inclusive pela mídia brasileira e os demais meios de comunicação. De tanto que ouvimos e lemos artigos se referindo aos “portadores da doença X”, automaticamente também vamos repassando a informação. Mas qual é a forma correta?
Tem surgido muitas discussões e debates sobre este tema entre as pessoas com doenças crônicas, alguns concordam, outros discordam, e a grande maioria ainda se sente confusa sobre o certo e o errado. Infelizmente, tem gerado conflitos entre os próprios pacientes que ainda utilizam este termo e os que (já) não utilizam mais.
Acho mais interessante explicar com carinho e paciência que este termo “pode” confundir algumas pessoas, fazendo-as acreditar que temos uma doença contagiosa, e que estamos “portando” vírus de um lado para outro.
O uso do termo, “portador”, já foi muito comum pela sociedade durante longas décadas, inclusive pela mídia brasileira e os demais meios de comunicação. De tanto que ouvimos e lemos artigos se referindo aos “portadores da doença X”, automaticamente vamos repassando as informações também. Eu mesma, já utilizei este termo em português (sem remordimento) muitas vezes, não apenas por seguir o exemplo de outros redatores, mas porque me sinto mais familiarizada com o significado das palavras que são derivadas do latim pela tradução da língua castelhana, que já estudei e é a língua oficial do país em que resido, do que pela língua portuguesa que havia perdido um pouco do contato há mais de doze anos.
A palavra portador deriva do latim - portator – “aquele que leva”. No espanhol, que está muito próximo ao latim, o verbo levar (llevar) tem diversos significados e sentidos diferentes da compreensão no português, por exemplo a frase: “ Estou levando um traje preto”, no português de Brasil, dá-se aquela ideia de que o sujeito está carregando (ou transportando) em suas mãos um traje preto, enquanto no espanhol (original) sabe-se de imediato que o traje preto está no corpo do sujeito; mas não pertence a sua natureza física. No dicionário da língua espanhola, também vamos encontrar a alternativa “carregar” como uma das traduções para "portador", o que também pode gerar dúvidas aos hispanoblantes, portanto, a ideia original ao pé da letra, é “aquele que leva”.
Mas, segundo a língua portuguesa, qual é a forma correta? 
Romeu K. Sassaki, editor e pedagogo da Planeta Educação, deixa bem claro que jamais houve ou haverá apenas um termo correto para se dirigir às pessoas com doenças crônicas, válido definitivamente em todos os tempos e espaços da história da raça humana, porque a cada época são utilizados termos cujo significado seja compatível com os valores vigentes em cada sociedade. Justamente por este motivo, a língua portuguesa sofre constantes modificações, sempre se adaptando com a compreensão da sociedade contemporânea.
No começo da história, durante séculos os grandes nomes de instituições, leis, mídia e outros meios mencionavam as pessoas com deficiência (e os doentes) por “inválidos”. A partir do século 20, passaram a ser chamados de “incapacitados”. O marco histórico ocorreu em 1981, quando por pressão das organizações de pessoas com deficiência, a ONU deu o nome de “Ano Internacional das Pessoas Deficientes”, assim, pela primeira vez em todo o mundo, o substantivo “deficiente” passou a ser utilizado como adjetivo ao doente. No ano de 1988, alguns líderes de organizações de pessoas com deficiência contestaram o termo “pessoa deficiente” alegando que ele sinaliza que a pessoa inteira é deficiente, o que era inaceitável para eles. Foi então que recorreram a palavra derivada do latim, portador, dando-se a entender que a pessoa tinha uma determinada carência, mas essa não pertencia a sua própria natureza. Com esta tese, o termo “portador” passou a ser utilizado para quase todas as doenças. Porém com o passar dos tempos, a linguística foi sendo modificada em acompanhamento com a sociedade, assim, anos mais tarde foi para “ pessoas especiais”, depois “ portadores de direitos especiais”, e agora a mais recente e a mais preferida pela maioria é “ pessoas com doença x ”, ou seja: pessoas com lúpus, pessoas com fibromialgia, pessoas com artrites, pessoas com deficiências e etc.
São assuntos que estão sendo estudados por lei, para alguns ainda é um tema novo e não é fácil deixar um costume linguístico tão rápido. Enquanto a sociedade atual interpretar o termo “portador” como alguém que está levando um vírus de um lado para o outro, é melhor então que nos esforcemos a não dizer esta palavra quando nos dirigimos aos doentes crônicos, que já bastam os tantos desafios que precisam enfrentar; pois não vamos poder estar explicando latim para todos.
Existem tantas palavras derivadas de outros idiomas que foram adaptadas a língua portuguesa (do Brasil) que nada tem a ver com a interpretação que damos a elas na atualidade, se levarmos tudo ao pé da letra poderíamos acabar gerando uma Torre de Babel. 
Acho interessante uma das traduções onde diz que portador é aquele que porta (em nossa compreensão atual), porque bem que eu queria ser portadora de lúpus, pois de vez em quando poderia deixá-lo em casa, em vez de ficar levando-o para passear comigo por aí, penso eu.  Fonte:

" Se está em Roma, coma como os romanos" - Ditado Popular

Fonte pesquisada: Planeta Educação - Tecnologias da Informação e Comunicação nas escolas públicas e privadas de todo o Brasil.



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