Hoje vamos de mais um texto, fantástico, baseado no capítulo 6 "Por que eu?" do livro "Meninas que adestram lobos" da Mara Chan. Texto fantástico pela delicadeza de transcrever a realidade das pessoas lúpicas. Vale a pena visitar seu site http://marachan.net/. Eu recomendo!
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Será que eu fui sorteado(a) no meio da multidão? |
Nenhum de nós escolhemos este destino, não fomos nós que decidimos ter lúpus,
mais bem parece, que a doença nos escolheu.
Será que eu fui sorteado(a) no meio da
multidão?
Mas por quê? Por que tinha que ser justo eu?
Para muitas doenças, existe como mínimo uma aceitável explicação - alguma
causa lógica.
No caso do Lúpus, tudo é muito complexo, parece um mistério, é uma das doenças que
mais
intrigam os especialistas do mundo inteiro. Somente sabemos que algumas
coisas
em nosso organismo nos tornam propensos a ter lúpus, e que estas
explicações de
forma comprovada, não estão ainda ao alcance de nosso conhecimento
humano. Podemos investigar por todos os meios e questionar aos nossos
médicos, e no fim de tudo, teremos que nos contentar que a sua causa é
desconhecida pela ciência.
Lembramos que em um determinado momento da vida, clinicamente não tínhamos o
diagnóstico dessa doença, vivíamos bem, sem dores e sem crises e, de repente, a
vida deu um giro de trezentos e sessenta graus, adoecemos e descobrimos que
temos lúpus.
O lúpus não pode ser adquirido de fora pra dentro, é uma doença
autoimune e
não contagiosa. Não pode ser induzido por nada exterior, a não ser no
caso do
lúpus induzido por medicamentos (L.I.M), o qual é um tipo de lúpus menos
conhecido, e até mesmo os próprios especialistas, não costumam chamá-lo
de lúpus, e sim de reação alérgica. Quando se ouve falar sobre lúpus,
estamos nos referindo ao Lúpus Sistêmico (L.E.S), que acomete todo o
nosso sistema autoimune, comprometendo todos os nossos órgãos, ou
também, o Lúpus Discoide (L.E.D) que a sua reação está
centrada na pele do paciente.
No início do diagnóstico, procuramos de tudo, tentamos apontar todas as
possíveis causas e corremos para todos os lados em busca de respostas. Chegamos
a acreditar em quase tudo que nos dizem, “ foi por inveja ”, “ isso é uma
doença espiritual”, “ está pagando por algum castigo” e etc... Tudo isso apenas
confunde ainda mais a nossa mente e as emoções, pois o momento não é ideal para pensarmos nisso.
A maioria das pessoas com lúpus, não consegue
compreender porque tem que ser com ela. Mas se pararmos para analisar e observar as outras vidas e as outras
histórias, veremos que toda a humanidade sofre, cada um de nós estamos
carregando a nossa cruz. Nós não somos
mais especiais que outros seres humanos, os quais também adoecem. O lúpus é
apenas uma, de tantas pragas soltas nesta dimensão do globo terrestre, e muitas pessoas
boas, inclusive crianças, estão sendo vítimas de guerras, acidentes,
assassinatos, pestes, misérias, terremotos e muitíssimos outros males presentes
no planeta.
Alguns são vítimas de doenças piores que a nossa, outras aparentemente melhores.
Há pessoas falecendo por uma gripe, enquanto outras sobrevivem ao câncer. Não
tem como distinguir quem está em uma posição melhor. É aquela velha história,
“hoje quem ri amanhã chora, e hoje quem chora amanhã canta vitória”. Não faz
nenhum sentido dizermos, por que eu? Por que tinha que ser comigo? Por acaso,
somos nós mais importantes para Deus do que as outras pessoas do planeta?!
Pensando bem, já que estamos aqui nesta situação, não vamos permitir a
vida
passar em vão. Só nos resta agora, tirar um bom proveito da lição de
vida que o lúpus
traz. O lobo, esse nosso “animalzinho invisível” que levamos dentro do
nosso
corpo, somente nós podemos tocá-lo e ouvi-lo, ensina muitas coisas se
estivermos atentos. Somente entre nós lúpicos, vemos e
compreendemos o que para o mundo lá fora é uma doença invisível. Todos
os
nossos temores e lutas em busca da sobrevivência e longevidade, são mais
bem
compreendidos entre nós mesmos, são sensações que nem os nossos
familiares podem compreender, porque sentimos na pele a aflição dos
nossos companheiros de batalha, aqui estamos todos no mesmo barco, a
vida que se encontra em risco, é a nossa. Portanto, esta luta, é na
verdade uma ponte que nos leva à fonte do conhecimento, uma imensa
oportunidade
para aprender profundamente os mistérios da vida.
Certa vez eu li a frase: “Muitos querem ter o que eu tenho, mas não querem
pagar o preço que eu pago”. São profundas essas palavras para nós; ninguém
gostaria de estar pagando o preço que nós pagamos, nem correr os riscos que
corremos neste mundo lúpico; mas com certeza, muitos gostariam de fazer a colheita
das profundas sabedorias que recebemos, sem precisar plantar a semente do nosso
sofrimento.
Se você parar para analisar, as pessoas com lúpus que se encontram em
melhores condições de saúde, são aquelas que têm um bom coração e esbanjam de
generosidade, pensam nos demais, estão sempre prontas para auxiliar e dedicar
parte de seu tempo em prol de outras pessoas, que também necessitam de carinho
e atenção.
É realmente prazeroso quando estamos na companhia de pessoas sábias e
capacitadas em seu domínio próprio. E, ainda mais gratificante, quando nos
damos conta que somos nós esta pessoa, a qual, outras se achegam em busca de
algum conselho, uma palavra sábia ou simplesmente para estarem em nossa
presença, já que essa força de superação as conforta. Para tantas explicações dos nossos porquês - que nunca
nos deram-, e que de fato não existem mesmo, melhor para cada um de nós é aceitar e confessar:
“Eu tenho lúpus porque a vida escolheu por este meio me edificar, nada é por
acaso. O mistério que nunca foi revelado, é que enquanto o meu corpo adoece, o meu espírito cresce ."
Sendo assim, existe um propósito por trás desta doença para a vida de todos nós.
"E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.... Portanto, quando estou fraco, então sou forte" - 2 Coríntios 12:9,10
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